Um exemplo de um versículo bíblico que muitas vezes é mal usado é João 1:1. Na Nova Versão Internacional esse versículo diz: “No princípio era a Palavra, e a Palavra estava com Deus [em grego, ton the·ón], e a Palavra era Deus [the·ós].” Esse versículo contém duas formas do substantivo grego the·ós (deus). A primeira é precedida deton (o), uma forma do artigo definido grego. Nesse caso a palavrathe·ón se refere ao Deus Todo-Poderoso. Mas na segunda ocorrência de the·ós, não há artigo definido. Será que ele foi incorretamente deixado de fora?
Por que é tão difícil entender a doutrina da Trindade?
O Evangelho de João foi escrito em coiné, ou grego comum, que tem regras específicas para o uso do artigo definido. O erudito bíblico A. T. Robertson reconhece que, se tanto o sujeito como o predicado tiverem artigos, “ambos são definidos, considerados idênticos, iguais e intercambiáveis”. Robertson cita como exemplo Mateus 13:38. que diz: “O campo [em grego, ho a·grós] é o mundo [em grego, ho kósmos].” Essa estrutura gramatical permite-nos entender que o mundo também é o campo.
O que dizer, porém, se o sujeito tiver um artigo definido, mas o predicado não, como em João 1:1? Citando esse versículo como exemplo, o erudito James Allen Hewett enfatiza: “Numa construção assim, o sujeito e o predicado não são os mesmos, nem são iguais, idênticos ou algo parecido.”
Para exemplificar, Hewett usa 1 Joao 1:5. que diz: “Deus é luz.” Em grego, “Deus” é ho the·ós e, portanto, tem artigo definido. Mas fospara “luz” não é precedido de nenhum artigo. Hewett explica: “É sempre possível . . . identificar Deus com a luz, mas nem sempre é possível dizer que a luz é Deus.” Encontramos exemplos semelhantes em João 4:24: “Deus é Espírito” e em 1 João 4:16. “Deus é amor”. Nesses dois versículos, os sujeitos têm artigo definido, mas os predicados “Espírito” e “amor”, não têm. Portanto, os sujeitos e os predicados não são intercambiáveis. Desses versículos não se pode concluir que “Espírito é Deus” ou que “amor é Deus”.